Os carros que dirigem sozinhos, e inclusive estacionam ao chegar ao destino, podem estar prontos para venda dentro de uma década, afirmam os executivos da General Motors Corp (GM).
A GM, os fornecedores de peças, os engenheiros das universidades e outras montadoras estão todos trabalhando no desenvolvimento de veículos que poderiam revolucionar a locomoção em distâncias curtas e longas. Nesta terça-feira (8), na Consumer Electronics Show (feira de eletrônicos de consumo) realizada em Las Vegas, o diretor executivo da GM, Rick Wagoner, dedicará parte de seu discurso aos veículos que dispensam motoristas.
"Não se trata de ficção científica", declarou Larry Burns, vice-presidente de pesquisa e desenvolvimento da GM, em entrevista recente.
Os maiores obstáculos que esses veículos terão de superar serão humanos e não técnicos, como regulamentações do governo, leis de responsabilidade e questões ligadas à privacidade, sem contar a paixão das pessoas pelo automóvel e pela sensação de controle que ele lhes proporciona.
A maior parte da tecnologia já existe para que os veículos assumam o volante: controle de navegação por radar, sensores de movimento, dispositivos de alerta de mudança de faixa, controle eletrônico de estabilidade e mapeamento digital por satélite. Além disso, os veículos automatizados poderiam melhorar significativamente a qualidade de vida nas ruas, diminuindo os índices de colisões e congestionamentos.
Isso se as pessoas se interessarem pelo produto.
"Agora a dúvida é: o que a sociedade deseja fazer com isso?", disse Burns. "Temos visto os problemas de congestionamento, segurança, energia e emissões. Em termos técnicos, não há por que não mudarmos para um mundo totalmente diferente."
A GM planeja usar um chip de computador barato e uma antena para conectar os veículos equipados com tecnologias que dispensam o motorista. A primeira aplicação mais provável seria em estradas. As pessoas teriam a opção de escolher o modo sem motorista, mas também poderiam optar por controlar o veículo nas ruas da cidade, explica Burns.
Segundo ele, a empresa planeja testar a tecnologia do automóvel sem motorista até 2015 e colocar os carros nas ruas por volta de 2018.
Sebastian Thrun, um dos líderes da equipe da Universidade de Stanford que terminou em segundo lugar entre seis equipes que concluíram a corrida de 100 quilômetros em novembro patrocinada pelo Pentágono em que só participaram carros sem motoristas, disse que o objetivo da GM é tecnicamente exeqüível. Mas ele afirmou que não tem muita certeza de que os carros já possam ser exibidos nos showrooms daqui a dez anos.
"Existem normas muito básicas e fundamentais no caminho desse objetivo em diversos países", explicou Thrun, professor de ciência da computação e engenharia elétrica.
A competição do Departamento de Defesa, que inicialmente envolveu 35 equipes, demonstrou que a tecnologia ainda não está pronta para as ruas. Uma equipe foi eliminada depois que o seu veículo praticamente acelerou na direção de um prédio, enquanto outro veículo misteriosamente entrou na garagem de uma casa e estacionou sozinho.
Thrun disse que os principais benefícios da tecnologia serão estradas mais seguras e a redução das cerca de 42 mil mortes no trânsito nos EUA que ocorrem anualmente, 95% das quais, segundo ele, são causadas por falha humana.
"É possível reduzirmos esses números em 50%", disse Thrun. "Apenas imagine todos os funerais que deixarão de acontecer."
Outros desafios incluem a atualização dos códigos dos veículos e a identificação de quem seria responsabilizado em uma colisão e como lidar com pneus furados e obstáculos na pista. No entanto, os sistemas poderiam ser desenvolvidos para informar os motoristas sobre as condições das vias e enviar alertas sobre batidas ou veículos parados mais à frente e evitar colisões nos cruzamentos.
As versões mais avançadas da tecnologia que dispensa motoristas poderiam reduzir os congestionamentos orientando os veículos a manterem um espaçamento menor entre si, quase como se fossem vagões de um trem, e maximizando a utilização do espaço em uma via expressa, explicou ele.
"Isso realmente modificará a sociedade, de forma muito parecida com a transição do cavalo para o carro", disse Thrun.
O governo norte-americano incentivou a tecnologia para ajudar os motoristas a evitar batidas, com destaque aos controles eletrônicos de estabilidade que ajudam a evitar capotamentos. Os sistemas serão obrigatórios nos carros de passeio novos a partir dos modelos ano 2012.
Em seguida, viriam a tecnologia e a comunicação entre os veículos que permitiriam que os carros se comunicassem com os sistemas rodoviários.
Ainda permanecem em discussão questões do tipo: como lidar com a privacidade do motorista, se os veículos atuais podem ser reequipados e modernizados e quantos veículos seriam necessários aos sistemas para desenvolver uma rede eficaz.
"Como se dará a consolidação no mercado ainda é uma incógnita, mas sem dúvida vemos muito potencial nessa área", declarou Rae Tyson, porta-voz do departamento de segurança de trânsito National Highway Traffic Safety Administration.
com G1