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24/08/2011 21:30:03

Sem segurança, acampamento em Murici é dominado por 'milícia'


Sem segurança, acampamento em Murici é dominado por 'milícia'
Mulher mostra adesivo à reportagem

Com gazetaweb // regina carvalho

 

Os acampamentos provisórios para os desabrigados da enchente viraram área fértil para formação de "milícias". Na cidade de Murici, moradores recorrem a esse tipo de vigilância para não terem as barracas invadidas durante a madrugada. O serviço de “polícia” custa R$ 15 a cada família e é feito por homens da própria comunidade, que usam espingarda e cassetetes.

Um homem identificado como “chefe Zé Nunes” e dois funcionários são responsáveis pelo serviço de vigilância dentro do acampamento. O trabalho deles existe há quase um ano, logo depois que os desabrigados ocuparam as barracas. A atuação da "milícia" é confirmada pelas próprias famílias que pagam a mensalidade.

Os moradores confirmam que a violência corre solta em Murici e dizem que contratar o serviço é uma forma de não perder o pouco que sobrou. Questionado sobre o que é pior em viver nessas moradias provisórias, o aposentado Natanael Francisco não tem dúvida. “Tenho muito medo de viver aqui. Não temos segurança nenhuma. Aqui é perigoso a qualquer hora”, reclamou o aposentado.

Natanael é um dos poucos que não paga pelos vigias. Um amigo dele não consegue se conter diante da equipe de reportagem e dispara: "Ninguém aqui vive em paz. É um tormento. Vi vários casos de roubo aqui”, completa.

Conforme alguns desabrigados, os milicianos trabalham armados de cassetete e espingarda. Eles percorrem os barracos e afugentam quem ousa cometer crimes. “Aqui tava muito violento, tinha muita morte. Era direto”, informou Quitéria Maria da Silva, que acrescentou ainda que o serviço era proibido inicialmente, mas teria sido liberado. Por quem, ela não soube informar.

Outra moradora diz que a violência no acampamento obrigou os moradores a pagar por segurança e denuncia que, quem não paga, se sente ameaçado e sabe que pode ser a próxima vítima de criminosos. “A gente paga para ter um pouco de sossego”, afirmou Luciene Pereira da Silva, que divide o barraco já desgastado pelo tempo com uma filha, duas netas e um genro.

O pagamento do serviço pesa no bolso dos desabrigados, mas não garante totalmente que o barraco do morador ficará livre da ação de criminosos. “A gente tem que pagar, acho melhor assim. Pagando a gente já sofre, imagine se não pagar. É o jeito, mas é muito difícil, porque muitos não têm emprego aqui e não tem dinheiro”, denunciou uma moradora que não quer se identificar.

O policiamento da área é de responsabilidade do 2º Batalhão de Polícia Militar (BPM), assim como os acampamentos de União dos Palmares, Branquinha e São José da Laje.

Mesmo os moradores confirmando que pagam vigias há um ano, o capitão José Guedes informou que o 2º BPM não tem conhecimento do fato, mas promete que vai investigar. Se for flagrado um desses “seguranças” com arma de fogo, ele será preso em flagrante. “Fazemos ronda sempre lá e nunca recebemos qualquer informação sobre isso. Vamos apurar tudo. Quem tiver armado fazendo esse serviço será preso e vamos chamar para prestar esclarecimento sobre o fato”, afirmou o militar.



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