19/04/2024 17:28:53

Saúde
27/06/2011 08:40:36

Alagoanos veem com desconfiança novas regras de planos de saúde


Alagoanos veem com desconfiança novas regras de planos de saúde
Hospital da UNIMED em Maceió

Com gazetaweb // lázaro calheiros

 

Desde o último dia 20, quem usar o plano de saúde para contratar uma consulta com o médico ou dentista não deve esperar mais do que 14 dias úteis, dependendo do tipo da consulta. Se agendar um exame, a demora não deve durar mais de três dias úteis, para exames laboratoriais, e até 21 dias úteis para os exames de maior complexidade, como a tomografia computadorizada – usada para diagnosticar, por exemplo, tumores e traumas cerebrovasculares.

A nova resolução normativa dispõe sobre a garantia de assistência à saúde para os beneficiários dos planos privados. De acordo com a resolução, as empresas responsáveis pelos planos de saúde deverão atender ao paciente dentro dos prazos estabelecidos. Se o município não tiver a cobertura do plano de saúde, o plano deverá garantir o atendimento oferecendo outras alternativas como, por exemplo, o transporte do paciente até o hospital de outra cidade que esteja credenciado.

De acordo com a resolução, em casos de atendimento médico de emergência e de urgência o atendimento deverá ser imediato. Nos casos em que o paciente precisa de transporte, a empresa operadora do plano de saúde deverá garantir a remoção e transporte do cliente levando-o para o hospital assim como o retorno à localidade de origem.

Caso contrário, o plano de saúde que desrespeitar alguma das normas impostas pela resolução serão punidos com penalidades como, por exemplo, o ressarcimento do valor gasto pela consulta ou exame, até o pagamento de uma multa no valor de R$ 80 mil.

Segundo o presidente do Sindicato dos Médicos de Alagoas (Sinmed) e vice-presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fenam), Wellington Galvão, os pacientes que se sentirem lesados por conta da demora no atendimento devem prestar queixa na Superintendência de Proteção e Defesa do Consumidor (PROCON) e cobrar o reembolso do dinheiro.

A partir de agora, os planos de saúde terão um prazo de 90 dias para se adaptarem a nova norma tanto . “A resolução nº 259 melhora a qualidade do atendimento médico aos pacientes uma vez que obriga o plano de saúde a garantir a consulta dentro do prazo, mas não ajuda aos médicos credenciados que continuam sendo mal remunerados pelas empresas operadoras dos planos de saúde”, denuncia Wellington.

Beneficiários reclamam de demora nos atendimentos

Camed, Unimed, Grupo Unidas, Cabesp, Medial Saúde, Saúde Excelsior, Bradesco Saúde, Blue Life, Assistência Médica Internacional (Amil), Fundo de Saúde do Exército (Funsex), Golden Cros, são alguns exemplos de planos de saúde. A Unimed é o maior plano de saúde do país, com 70% de cobertura, mas também é o campeão em reclamações, principalmente acerca da demora dos exames e das consultas.

A técnica em enfermagem, Leide Batista, é cliente da Unimed há 12 anos, mas mesmo assim reclama da demora para receber um tratamento. Segundo Leide, uma consulta agendada pela Unimed chega a demorar mais de um mês e para fazer um exame a espera pode durar mais de três meses.

“Mesmo sendo cliente há muito tempo, eu não tenho nenhum privilégio. No departamento de Emergência e Urgência do Hospital Unimed, tem paciente que espera mais de duas horas para receber atendimento. Endocrinologia e neurologia são algumas das especialidades cujos exames podem demorar mais de três meses”, diz Leide Batista.

Leide paga o pacote mais caro do plano de saúde Unimed, o Plano Nacional Apartamento, que dá assistênica médica em qualquer parte do país e de bônus o direito a internação em um dos quartos disponíveis dentro do apartamento do hospital.

Segundo Leide, ela precisa combinar com o médico para ser atendida em até 15 dias se não quiser esperar mais de um mês para ser atendida.

Uma estudante universitária do curso de Pedagogia, que quis se identificar apenas G.B.S., de 22 anos, que mora no bairro do Sanatório, também é cliente Unimed e reclama da demora dos serviços prestados pelo plano de saúde. G.B.S mora no bairro do Sanatório, parte alta de Maceió, e a clínica da ginecologista dela fica no bairro da Jatiúca, parte baixa da cidade.

“Sempre é assim comigo. São quase dois meses para esperar uma consulta com a minha ginecologista. Alguns exames são rápidos, mas têm outros que são a maior burocracia. Em caso de exames complexos, a gente tem que ir à uma clínica agendar o exame com o médico, depois volta à Unimed para saber se já saiu a autorização do exame e depois tem que volta à clínica para ser atendido. Se eu não tivesse plano de saúde, eu ia gastar cerca de 200 reais para ser atendida por essa médica”, destaca GBS, 20.

Apesar da demora, G.B.S. diz que não troca de médica para não atrapalhar o tratamento que já dura anos e por isso prefere fazer o sacrifício esperando mais tempo por uma consulta.

Quando perguntada sobre a nova resolução que estabelece prazo máximo para o atendimento médico, G.B.S. responde prontamente que não confia numa redução tempo de espera por uma consulta porque a demanda é grande. “Não tem como, a médica vai passar a atender cada paciente em cinco minutos? Eu não acho correto esperar tanto tempo por uma consulta, mas também atender às pressas não é o caminho correto”, diz.

Para tentar driblar a demora, G.B.S. e Leide Batista revelaram que aproveitam o dia da consulta para levar mais alguém da família que esteja fazendo tratamento com o mesmo médico especialista. Além disso, Leide lembra que logo após a consulta ela ainda combina com o médico a data da próxima consulta ou exame para ganhar tempo. “Se eu não fizer isso e for esperar pela Unimed, o meu atendimento demorará mais de 90 dias”, justifica Leide Barreto.

Médicos insatisfeitos

Wellington Galvão, que também é médico hematologista e hemoterapeuta, concorda que a aprovação da resolução nº 259 visa a melhoria na qualidade do atendimento a população, mas é antagônico ao alegar que ainda há muito o que melhorar na relação entre os médicos e os planos de saúde. Wellington diz que é cada vez maior a quantidade de médicos desistindo dos planos de saúde.

Galvão explica que muitos médicos estão se descredenciando dos planos de saúde porque as empresas operadoras dos planos estão pagando aos médicos uma porcentagem muito baixa em cima do valor que é cobrado aos beneficiários.

Segundo o presidente do Sinmed, está havendo uma grande evasão de médicos com relação aos planos de saúde. Wellington Galvão detalha que em Alagoas existem planos de saúde cobrando entre R$ 150 a R$ 400 por consulta e repassando aos médicos valores irrisórios no valor de R$ 50 até R$ 20 reais, enquanto a luta dos médicos é por uma remuneração de no mínimo de R$ 80.

O plano de saúde que pagar melhor aos médicos é o Grupo Unidas disponível aos servidores públicos, como por exemplo os do Banco do Brasil, Correios e Caixa Econômica, que repassa aos médicos R$ 56 por consulta. Já o Unimed repassa aos médicos R$ 40 por consulta.

De acordo com Galvão, esses R$ 80 reais seriam o limite mínimo para suprimir os gastos com consultório, eletricidade e os honorários de procedimento, como as cirurgias. Em São Paulo, alguns médicos que desistiram dos planos de saúde estão ganhando até R$ 1.000 por consulta.

Médicos pediatras, obstetras são alguns dos exemplos que têm registrado o maior número de desistência. Em Alagoas, o maior exemplo de desistência médica com relação aos planos de saúde vem dos urologistas que, exceto os credenciados pela Unimed, nenhum atende por um plano de saúde.

Para tentar suprir os déficits alguns médicos acabam se conveniando a vários planos de saúde ao mesmo tempo, cada plano tem um período de cadastramento de até seis meses. Para resolver o problema é necessária a aprovação de outra resolução visando uma negociação entre médicos e planos de saúde.

“Esse grande número de médicos desistindo é muito ruim porque atualmente Alagoas conta com apenas 3.600 médicos para atender quase 1 milhão de habitantes. Enquanto isso, as empresas operadoras dos planos de saúde a cada ano aumentam a margem de lucro. Em 2009, o plano Bradesco Saúde lucrou cerca de R$ 500 milhões”, diz Wellington Galvão.

Wellington Galvão diz que a nova resolução é boa apenas para o PROCON e a população, mas não vê vantagens para a categoria dos médicos.



Enquete
Na Eleição de outubro, você votaria nos candidatos da situação ou da oposição?
Total de votos: 31
Notícias Agora
Google News