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Alagoas
19/06/2011 15:12:14

Acampamentos viram favelas no interior de Alagoas


Acampamentos viram favelas no interior de Alagoas
Acampamento em União: uma morte e uma tentativa

Com gazetaweb // maurício gonçalves e severino carvalho

 

Branquinha – A cheia passou. Ficaram a miséria, o descaso, a violência e a espera pelas promessas de reconstrução. Um ano depois da chuva que arrasou 19 municípios nos vales dos rios Mundaú e Paraíba, os acampamentos de desabrigados viraram favelas, com tiroteios e tráfico de drogas. Enquanto as obras oficiais se arrastam, áreas de risco na beira do rio são reocupadas por casas construídas pelo povo com recursos próprios.

Assim como aconteceu no dia 18 de junho de 2010, é um “Deus nos acuda”. A filosofia do “salve-se quem puder” ainda prevalece nos locais mais afetados. No Centro da cidade de Branquinha, a população continua enchendo baldes no carro-pipa para ter água potável. Passados doze meses do anúncio do presidente Lula da Silva de que novas cidades seriam construídas longe do rio, tem obras que não saíram dos serviços de terraplanagem em Santana do Mundaú e União dos Palmares.

Dignidade dá lugar à violência e miséria em barracos

Quando perderam as casas na cheia de 2010, eles eram pobres. Hoje vivem na miséria, em péssimas condições nos acampamentos que se transformaram em favelas. “Puxadinhos” de madeira, paredes de papelão, divisas de lençóis, barracos de taipa, tetos de brasilit e cobertas com palhas se destacam nos aglomerados de barracas compradas pela Defesa Civil.

Depois de tanto tempo vivendo no improviso, a convivência que sempre foi difícil torna-se infernal. Denúncias de roubos, estupros, agressões e tráfico de drogas sempre existiram. Em alguns momentos, as intrigas se resolvem da pior forma. Tiroteios, ameaças de morte e homicídios já foram registrados.

Desvio de donativos deixou população incrédula

No município onde as obras estão mais atrasadas, o afastamento do prefeito e de seis secretários municipais após denúncias de desvios de donativos esmagou o pouco que restava de credibilidade do poder público com a população. Diante dessa quadro, a Defesa Civil e outros órgãos fiscalizadores não conseguem impor moral para evitar a reocupação de áreas de risco na beira do rio.

Nem as barracas montadas para os desabrigados tiveram serventia. Ninguém se submeteu a morar numa delas. As trinta tendas instaladas no bairro da Cohab, em Santana do Mundaú, só foram ocupadas há cerca de dois meses, depois de um alarme falso atiçado pelo boato de uma nova cheia que chegaria na região. Aliás, uma falha no sistema de prevenção de alerta que até gerou um certo pânico na população traumatizada.

Estado tem R$ 713 milhões garantidos para obras

Ainda não se vê muita coisa de concreto, mas o dinheiro chegou a rodo para a reconstrução das áreas e cidades atingidas. O Estado de Alagoas já recebeu R$ 526 milhões para as obras de infra-estrutura, tem mais R$ 713 milhões garantidos para a construção de casas e ainda está pedindo outros R$ 125 milhões para obras complementares e R$ 8 milhões para trabalhos de prevenção. Total da conta: R$ 1 bilhão e 372 milhões, valores que deixam qualquer empreiteiro com um sorriso de orelha a orelha.

O governo garante que cada centavo será bem aplicado e culpa a burocracia excessiva pelo atraso nas obras, além da própria magnitude dos desastres. Para cobrar resultados, diante de tamanha monta investida, o vice-governador José Thomaz Nonô assumiu o papel de coordenador do Programa da Reconstrução. Na última sexta-feira, reuniu a imprensa para fazer o balanço das ações, um ano após a cheia, até porque o governador Teotônio Vilela cumpria agenda em São Paulo.

Em Pernambuco, reconstrução está avançada

Com características climáticas semelhantes, Alagoas e Pernambuco fizeram parte, durante a maior parte do período colonial, de um só território. Aquele se transformou em capitania – divisão administrativa autônoma –, em 1817, e com a independência do Brasil, em 1822, passou à província.

Na categoria de Estados, atualmente, as duas unidades da Federação foram açoitadas, em 2010, pela maior enchente da história. Do lado pernambucano, a destruição foi equivalente: dos 181 municípios, 68 sofreram com os efeitos dos temporais. Destes, 30 decretaram situação de emergência e onze, estado de calamidade. Vinte pessoas morreram.

Saída de famílias das margens dos rios é prioridade

Recentemente, foi criada a Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac), responsável pela implantação de um sistema de previsão e alerta hidrometeorológico. Contudo, avalia o governador, a solução definitiva para as enchentes na Mata Sul possui dois eixos. O primeiro está relacionado com a remoção das famílias das margens dos rios, o que deve acontecer com a entrega, até o fim de 2012, das 12 mil casas.

O segundo refere-se à construção de cinco novas barragens na Bacia do Rio Una, ao custo de mais de R$ 600 milhões. As primeiras barragens a serem construídas são Panelas 2 e Gatos. “Os dois reservatórios terão papel importante na contenção de enchentes na Mata Sul e em parte do Agreste do Estado - ambos estão em licitação. As outras três barragens estão com projetos em fase de conclusão”, informou a CEHAB.

“As obras das barragens já iniciaram, porque uma obra começa quando você compra um terreno, faz o projeto, o licenciamento, consegue o dinheiro. Este ano já colocaremos em obra as cinco barragens”, enfatizou Eduardo Campos.

Trabalhos não param durante período chuvoso

Cidades pernambucanas, a exemplo de Barreiros, avançam com as obras mesmo debaixo de chuva. E choveu aos borbotões naquela região, segundo dados da empreiteira Egesa, entre os dias 8 de abril e 4 de junho deste ano: 1.600 milímetros, quando a média anual é de 2 mil milímetros. Em apenas seis meses, choveu em Barreiros 2.400 milímetros, portanto 20% a mais do que a média anual prevista. Na última sexta-feira, quando o governador Eduardo Campos inaugurou as primeiras residências em Barreiros, peneirava uma chuva miúda.

Para manter o ritmo dos trabalhos, mesmo com o aguaceiro, a construtora Egesa instalou três galpões infláveis em cada platô, o maior deles com 5.600 metros quadrados. A bolha gigante permite que os operários finquem as bases e levantem as paredes de 20 casas a cada dois dias de trabalho.




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