Com ojornal-al // joão lyra
A violência em Alagoas é endêmica e é uma espécie de subproduto da ineficiência da estrutura dos órgãos de segurança do Estado.
Agora mesmo, policiais civis e militares e bombeiros batem de frente com o governo estadual. No centro da crise, reivindicações salariais, acusações de parte a parte, um cenário infindável de desentendimentos. E, como conseqüência disso, todo e qualquer indivíduo se julga capaz de fazer sua própria justiça, um contrassenso às normas da cidadania, que devem prevalecer numa sociedade civilizada.
O que é mais assustador é que esse rastro de ódio, mola propulsora da criminalidade, atinge a população indiscriminadamente. Na quinta-feira, uma criança, armada de faca, invadiu uma escola em Pilar, com o objetivo de vingar-se de outro adolescente. Logo, a lembrança da cena de sangue de Realengo aflorou na população.
Na semana passada, um outro episódio trágico enlutou Maceió: o assassinato do cobrador de ônibus José Norberto de Souza, o Nego, 58 anos, quando iniciava mais uma noite de trabalho. O crime comoveu Maceió.
Este ano, 12 moradores de rua já foram assassinados na cidade, três em cada mês. É um número impressionante, ultrapassando proporcionalmente até mesmo São Paulo, uma cidade com 11 e meio milhões de habitantes, população equivalente a 12 vezes a de Maceió. Pode-se dizer que as vítimas são consumidoras de drogas. Isso só importa para um exame das motivações, e não retira o caráter hediondo dos crimes. Enquanto isso, o número de explosões de caixas eletrônicos segue uma tendência crescente. Ambos são casos também muito em moda em outras capitais, porém somente em Maceió a estrutura de segurança dá mostras de debilidade extrema para o combate àqueles tipos de delitos.
É evidente que esse cenário tem-se tornado mais radical porque o aparelho de inteligência e repressão das nossas forças policiais deixa muito a desejar, dando razão aos policiais civis e militares que lutam não somente por melhores salários, mas, igualmente, por melhores condições físicas para o exercício de suas tarefas. E, se é assim, a bandidagem encontra em Alagoas terreno fértil para o cometimento dos seus crimes, certa de que a impunidade aqui é real e incontestável.
Que as nossas autoridades avaliem melhor o alcance dos resultados das medidas que adotam. Antes, porém, uma autocrítica faria muito bem, com vistas a uma mudança radical no planejamento do setor de segurança do Estado. O próprio governo federal deveria ser consultado para a viabilização de recursos financeiros destinados a novos e indispensáveis projetos na área.
O governo estadual pode e deve fazer isso, sob pena de ver o esfacelamento definitivo da segurança estadual, propiciando a continuidade da violência endêmica que parece ter aumentado nos últimos anos.
Sobre o autor
João Lyra é deputado federal, membro da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania e da Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio.