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05/10/2007 00:00:00

Polícia


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Quando “Josias Cinqüenta” participou – ainda que indiretamente – do assassinato brutal do jornalista Tim Lopes, da Rede Globo, ele tinha aproximadamente 12 anos de idade. No entanto, enganam-se quem pensar que o início de sua vida no crime se deu aí. Josias Cinqüenta, que tem como profissão ajudante de pedreiro, entrou na vida do crime bem antes de completar os 12 anos. Detalhe: a história de vida dele – que se confunde com a bandidagem – não é a única nos morros e favelas cariocas.

Josias Cinqüenta é um exemplo de quando crime e personalidade se tornam indissociáveis, por motivos que ficam a critério da sociologia e da psicologia debater. De acordo com depoimento prestado à Polícia Civil de Alagoas, Josias Santos Telles entrou para a “vida do crime” – como ele mesmo descreve – aos nove anos de idade. O motivo, conforme “Cinqüenta” foi ter assistido o padrasto estuprar suas duas irmãs menores de idade: uma com 15 e outra com 17 anos de idade.

Depois disso, se fez um verdadeiro épico recheado de sons de tiros, mortes, assaltos e miséria. O primeiro homicídio cometido por Josias Cinqüenta ocorreu antes mesmo que ele completasse 10 anos de idade. Em um acesso de fúria – de acordo com o seu próprio depoimento – ele matou o primo Gabriel dos Santos, que tinha também nove anos de idade.

“Josias Cinqüenta” descarregou uma pistola calibre .45 no primo, após ser expulso de casa pelo padrasto. A relação entre os fatos fica para a psicanálise, ou então para alguma outra ciência, pois nem o próprio “criminoso” assumido pode explicar. Do primeiro homicídio até o dia atual, a única coisa que Josias acumulou na vida foram tatuagens – inclusive algumas que o identificam como membro do famoso bando do traficante Elias Maluco – e cicatrizes de perfurações à bala, no braço direito, na perna direita e no joelho.

Grau de instrução? Talvez formado pela universidade do crime, mas só chegou até a 4° série do Ensino Fundamental. Teve que largar os estudos para se ocupar de outras atividades, como o tráfico de drogas, por exemplo. O segundo homicídio que participou – segundo ele – foi o do repórter Tim Lopes. Ironicamente, no dia em que passava na TV Globo o programa Criança Esperança.

Tim Lopes

Ao narrar os fatos, Cinqüenta não sabe precisar datas, mas descreve tudo com uma precisão assustadora, para quem na época era apenas uma criança. Ele diz que chegou a ver Tim Lopes filmando as festividades na favela, inclusive os “donos da boca geral”, que pertencia ao traficante Elias Maluco. Foi o também envolvido no tráfico André Capeta que deu o “toque” para um bandido conhecido como “Vinte e dois” de que “tinha um estranho na área”.

“Vinte e dois” passou a “parada” para Elias Maluco, que por sua vez determinou que se fizesse o cerco e matasse Tim Lopes. André Capeta não tinha conhecimento de quem era o repórter, mas seguiu à risca a ordem de dirigir o veículo usado para seqüestrar o repórter. Participaram da ação: “André Capeta”, “Boisinho”, “Xuxa”, “Ratinho”, “Toma-toma”, “Jardele”, “SBT”, “Biel” e Josias Cinqüenta. Apenas os três últimos ainda estão vivos.

Tim Lopes foi seqüestrado pelo bando e – de acordo com Josias Cinqüenta – foi levado para o Complexo do Alemão. Lopes – ainda segundo o acusado – “pediu muito para não morrer”, mas “os caras” haviam visto a câmera do repórter, então a “sentença de morte já estava assinada”.

Não havia escapatória. O adolescente sabia que – usando a gíria da quadrilha – iriam “passar o jornalista”. De acordo com Cinqüenta, amarraram Tim Lopes em uma árvore, depois passaram a esquartejá-lo com uma espada e um machado. “Primeiro cortaram as mãos, depois foram picotando até embaixo”, destaca Josias Cinqüenta. Ao acusado coube sair do local para comprar óleo diesel e gasolina para queimar o corpo.

“É para ficar só os ossos”. Foi a frase que ele ouviu de Elias Maluco. Ao retornar ao local, encontraram o corpo de Tim Lopes todo despedaçado. Cinqüenta conta de forma fria e precisa como ele, Biel e SBT saíram juntando os pedaços do corpo do repórter. Formaram um pequeno monte com as partes do cadáver e tocaram fogo. Josias Cinqüenta – vale lembrar – tinha apenas 12 anos de idade.

Os pedaços do corpo do jornalista ainda forma colocados dentro de um latão de gasolina. “Eu acendi o fogo e fiquei esperando até o final”, diz Josias, orgulhoso de na época ter cumprido a ordem do chefe Elias Maluco. O ritual da morte de Tim Lopes iniciou à meia-noite e acabou às 3 horas da madrugada.

Os detalhes

De acordo com Josias Cinqüenta, antes de morrer Tim Lopes teve os olhos queimados com um cigarro. “Eu tive pena, pois nunca tinha visto aquela situação, mas precisava participar para não morrer”, diz ele. No entanto, em outro momento do depoimento, o preso confessa que participou do crime porque ganharia de Elias Maluco a quantia de R$ 250. “Eu queria comprar umas coisas para mim. Queria comprar roupas”, salienta.

Josias Cinqüenta foi preso após ter seu rosto exibido no programa Linha Direta da Rede Globo de Televisão. Não pelo crime da morte de Tim Lopes. Ele participou de um assalto a um carro-forte em abril deste ano. O acusado é apontado como integrante de uma quadrilha especializada em assaltos, que roubava vestidos de policiais militares.

Além dos assaltos, da morte do primo e do homicídio de Tim Lopes. Josias Cinqüenta confessa ainda o assassinado de cinco policiais militares do Rio de Janeiro. Em um dos crimes, ele chegou a arrancar as duas pernas de um dos militares com tiros de fuzil. “As pernas ficaram penduradas apenas pela pele”, relata ele.

A tatuagem e a filosofia

Josias Cinqüenta carrega nas costas – literalmente – sua filosofia de vida, depois de ter entrado para o mundo do crime. Há em suas costas uma tatuagem com a inscrição HIP HOP. Indagado sobre o porquê da tatuagem. Ele diz que é uma espécie de mote de sua existência e que significa “Vida Louca no morro do Macaco”, ou seja, uma expressão que integra uma milícia em Vigário Geral, no Rio de Janeiro.

Em Alagoas, o acusado também participou de crimes, conforme a Polícia Civil, e chegou a montar um pequeno grupo que agia na periferia roubando motocicletas, bicicletas e celulares. De acordo com ele, a mercadoria roubada era sempre trocada por drogas. Josias Cinqüenta citou diversos nomes em seus depoimentos, que não serão revelados porque as investigações continuam. No fim do depoimento, Josias Cinqüenta ainda ressalta: “Atualmente, só faço parte do Comando Vermelho (facção criminosa carioca)”.

com alagoas24horas // Luis Vilar



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