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27/01/2011 19:16:52

União dos Palmares está há meio século parado no tempo


União dos Palmares está há meio século parado no tempo

antonio aragão //

Perdas de instituições importantes vêm sendo registradas desde o final da década de 70 em União dos Palmares, o que tem contribuído de forma decisiva para impedir o desenvolvimento municipal associada de forma acintosa a falta de vontade politica no sentido de que nosso município ocupe sua real posição de um dos mais importantes no contexto nordestino.

Nesta matéria o internauta vai saber ou relembrar de algumas destas perdas mesmo conscientizados que o município é privilegiado pela natureza por sua localização, terra fértil, abundância de água, exuberância de suas matas (ainda) duas rodovias em excelente estado de trafegabilidade (Al-205 e BR-104) e proximidade com os grandes centros comerciais do Nordeste e Sudeste, além de mão de obra farta e disponível.

O inicio destes retrocessos se deu com o fechamento da saudosa “Indústria de Conservas Palmares” que funcionava na Rua Demócrito Gracindo (conhecida como Rua da Ponte) que além de empregar diretamente dezenas de pessoas absorvia a produção de banana e goiaba da região. Por sua qualidade e aceitabilidade tornou-se produto de exportação.

O fechamento desta indústria foi o principal argumento dos produtores de bananas do “Vale da Pelada” em optar pelo cultivo da cana de açúcar por um motivo obvio: para transportar a banana e hortifrutigranjeiros é necessário dispor de estrada trafegável em todas as estações do ano enquanto a cana somente é transportada no verão. Nos dias atuais, mesmo depois de milhares de dólares haverem sido destinados para construir a “Estrada da Banana” interligando a BR-104 em União dos Palmares a BR-101 em Joaquim Gomes nem meio quilômetro de asfalto foi construído.  As verbas sumiram e a rodovia nunca foi feita, embora conste em alguns mapas rodoviários que a estrada existe. Outrora o município era considerado o maior produtor de bananas prata do Nordeste.

Sem estimulo econômico e sem despertar interesse dos mandantes da época mesmo atravessando excelente fase de expansão também encerrou suas atividades a “Indústria de Correntes Palmares” que dominava a maior fatia do mercado nordestino fabricando e vendendo correntes para uso industrial. Era uma firma genuinamente palmarina, extremamente organizada e empregava dezenas de pessoas além de contribuir decisivamente para o desenvolvimento do município e do estado com grandes somas em impostos recolhidos.

Considerável perda para e região foi à desativação da Rede Ferroviária. Para os mais idosos, as lembranças da época das safras quando se formavam extensas filas de caminhões para descarregar produtos colhidos em nossos campos nos vagões de trem cuja fila se estendia até o inicio da Rua do Jatobá o que era uma prova inequívoca da produção em grande escala de cereais e alimentos em União dos Palmares. Para ilustrar aos mais jovens no nosso município já se produziu até arroz.

O triste registro do fechamento da APEAL (Associação de Poupança de Alagoas), e da COBAL (Companhia Brasileira de Alimentos) que eram supermercados subsidiados pelo governo e revendiam alimentos a preço de custo. Depois, a economia local também perdeu o BRADESCO, o Banco do Estado de Alagoas (PRODUBAN) e o Supermercado “BALAIO”. Paralelamente, lojas de menor porte que mantinham suas filiais em União, sentindo a estagnação econômica, também se foram. Ao povo, restou a chegada do Banco do Nordeste que não é um banco comercial. As Lojas Paulista e a S. Moraes foram outras empresas de grande e médio porte que bateram em retirada como se previssem a recessão e o atraso a que o município começava a viver.

As obras mais importantes durante todos estes quase quarenta anos são a sede da Prefeitura Municipal (defasada atualmente já que se tornou pequena para abrigar as secretarias) uma quadra de Esportes descoberta contígua a Prefeitura e a duplicação da Avenida Monsenhor Clóvis Duarte. O resto tudo é obra de retoques e fachadas.

Acompanhando o ritmo alucinante de atraso, tornou-se verdadeiramente imprestável seu uso para o fim que foi construído o armazém da CIBRAZEM no prolongamento da Rua Perciliano Sarmento feito para estocar o açúcar das usinas Serra Grande e Lajinha. Hoje o local serve de abrigo para várias famílias de sem-teto e o prédio se encontra com sua estrutura comprometida.

Ironicamente, defronte ao antigo armazém se nota a presença de um elevado sobre os trilhos da RFFSA que foi projetado para ser interligado por um aterro a uma ponte (hoje sem pé ou cabeça) sobre o Riacho Canabrava, que fariam parte do terceiro acesso viário a cidade para desafogar o transito e escoar a produção. Ninguém sabe quanto foi gasto na obra inacabada ou quem pagou ou quem paga ou ainda vai pagar a conta do desperdício.

Foi iniciada e em seguida abandonada a construção daquele que seria o “Hospital Municipal de União dos Palmares” no Bairro Roberto Correia de Araújo na margem da BR-104 cuja obra somente em seu aterro foi consumido o equivalente a R$ 120.000,00, de uma verba conveniada com o SUS no total de R$ 1.300.000,00 conforme um cartaz afirmava no local da obra. A construtora contratada foi OAS, mas a conclusão do novo hospítal se diluiu no tempo. A obra deu lugar um pequeno campo de futebol e ao Complexo Alimentar Empresário José Cicero Lopes (Casa da Sopa), que também nunca foi concluído.

Quem circula na cidade verifica a destruição das Serras dos Frios e da Barriga, integrantes da Mata Atlântica alagoana. Para tentar recuperar a segunda (perto do aniversário da morte de 300 anos de Zumbi), houve até uma tentativa do Exercito em reflorestar a mata da cujo trabalho também não foi concluído. Ainda hoje existem mudas de plantas nativas ressecadas e abandonadas no local.

Há cerca de cinco anos a Secretaria Executiva de Planejamento do Governo Estadual mandou afixar uma placa nas proximidades do Matadouro Municipal onde declarava que em parceria com o município iriam empregar R$ 341.000,00 (estado) e R$ 111.000,00 (município) na construção do trecho dos seis quilômetros interligando a cidade a Serra da Barriga, ou “O Caminho do Turismo” como seria chamada a obra.

Ainda hoje a estrada é vicinal e somente recebe tratamento superficial próximo ao Dia da Consciência Negra. No restante do ano, moradores da região e turistas enfrentam uma das piores estradas carroçáveis da região que só serve para caminhões contrabandear e escoar cana no tempo da colheita e é um excelente atalho para motoristas desabilitados evitar para a Delegacia da Policia Rodoviária Federal.

O mato e o abandono são parte integrante do Parque Histórico Zumbi dos Palmares (no alto da serra) em cujas cercanias o governo do estado construiu uma cidade cenográfica que foi destruída pelo tempo pouco tempo após ser erguida. Para a inauguração do Parque com direito a visita de ministros e destacadas autoridades foi empregado mais de dois milhões de reais em obras fantasiosas que nunca serviram para nada. Nenhuma construção como as atalaias, cozinha, restaurante, centro artesanal, casa de farinha, ocas e os “pontos eletrônicos” funcionam. A exceção é uma escola de capoeira.O propalado hotel “estilo africano” nunca foi construído.

Anualmente arqueólogos da UFAL retiram material do território da serra, já tendo até sido registrada a presença de “doutores" da Universidade de Ilions nos Estados Unidos escavando e extraindo urnas funerárias e objetos de nosso acervo. Enquanto isto, a cidade de União dos Palmares não dispõe de uma estátua de seu líder negro em nenhuma rua ou praça, ou mesmo um museu que exponha peças históricas do tempo da escravidão.

Não foi poupado o antigo cinema local que era o Cine Teatro e Clube Fênix e os cinemas Brasília e Imperatriz a exemplo do clube social da cidade chamado carinhosamente de Palmarina que testemunhou grandes momentos de nossa sociedade desde o ano de 1935 quando foi fundado. Recentemente foi leiloado para pagar divida trabalhista já que mal administrado, foi alvo de disputa judicial e consequente aquisição por parte de particulares. Hoje funciona como templo evangélico.

O “Viradouro” (máquina movida a tração humana onde os funcionários da rede ferroviária trocavam a direção das locomotivas) localizado no pátio da estação ferroviária que deu origem ao nome "União” está entregue ao abandono e intempéries além de ser alvo de pichadores e drogados cuja serventia é apenas para a pratica sexual em plena Avenida Monsenhor Clóvis no centro da cidade apesar da iluminação e da presença de famílias residindo nas proximidades.

No bairro “Jardim Brasília”, um pouco da nossa história está também abandonada: um marco tipo obelisco construído há mais de cem anos para registrar a passagem dos séculos XIX para XX hoje se localiza na parte interina do muro de uma residência embora o monumento seja um testemunho vivo da história de nossos antepassados.

A ‘Feira de Animais’ que seria uma das principais obras do falecido prefeito José Pedrosa é atualmente abrigo para famílias de sem tetos, e até junho segundo anunciou o novo presidente da Câmara de Vereadores dará lugar a uma revendedora de automóveis que deverá empregar gente de União. A critica se direciona ao fato da madeira do cercado da feira (comprada a época por alta soma) ser retirada com a promessa de ser reaproveitada na margem do Rio Mundaú onde ficará exposta a ação do perigoso rio.

O quase centenário Matadouro Municipal foi totalmente destruído pela cheia de junho de 2010, menos de cinco anos após ter sido recuperado e os que comerciam carne bovina estão obrigados a pagar transporte de ida e volta além de taxas (também lá e cá) na vizinha cidade de São José da Laje para abater suas rezes e comercializa-las mais cara no retorno a União dos Palmares.

O “Parque Industrial de União dos Palmares” localizado na margem da BR-104 é um dos mais modestos do estado já que apenas uma fábrica funciona no local, e existe só uma empresa revendedora de bebidas nas proximidades, embora para lá estejam projetados o Campus da Faculdade UNEAL, e o Quartel do Corpo de Bombeiros além da promessa de um amontado de fábricas. Nenhum dos projetos saiu do papel.

Ainda na BR-104, no lado direito do sentido União dos Palmares/Maceió após a a Policia Rodoviária Federal, pode-se notar outro exemplo de desperdício do dinheiro público. A Lagoa de Decantação de Dejetos Sanitários que foi projetada e construída para trazer benefícios para a saúde da comunidade, mas como não a obra não retorna votos de uma feita que fica enterrada depois de funcionar, está abandonada.

No km. 35 da BR-104, outra evidencia do desinteresse pelo desenvolvimento do turismo. O Posto de Informações Turísticas “Dandara” que foi construído para ser ponto de referencia aos visitantes, transeuntes e estudantes que buscam informações sobre a História de Zumbi e a localização da Serra da Barriga não funciona. No pequeno e moderno prédio descansam os carregadores de caminhões e passageiros que esperam o ônibus interestadual para Caruaru, já que alguns coletivos desta empresa não circulam na cidade.

Na continuidade da BR desta feita no sentido União dos Palmares/São José da Laje, se percebe a existência de um amontoado de ferro velho misturado a lixo doméstico. O motivo do abuso, segundo alguns moradores é simples: a prefeitura somente recolhe os dejetos duas vezes por semana e a população do considerado maior bairro do interior alagoano, o Roberto Correia de Araújo com quase 15 mil habitantes se vê obrigada a depositar quase que diariamente o material inservível no acostamento da rodovia, oferecendo uma péssima imagem de falta de educação e civilidade a quem se dirige a cidade ou quem transita por nossa principal rodovia.

No lado esquerdo da entrada da cidade precisamente no inicio da Avenida João Lyra Filho logo após o Ginásio de Esportes, é fácil perceber o estado de abandono do Centro Esportivo Desportista João Ferreira da Silva, que abriga uma quadra de natação semiolímpica que nunca funcionou. Foi orçada e construída com mais de um milhão de reais. Hoje, até os filtros das gigantescas bombas da piscina estão imprestáveis, submersos. Sua serventia atual é acumular larvas e mosquitos transmissores da dengue.

A ex-colônia Penal Santa Fé está desativa há também quase 40 anos. São 16 blocos de galpões, cinema, biblioteca, cozinha, gabinetes médico e odontológico, sala comunitária, sala administrativa, salas de aula, salas de professores, restaurante e demais dependências que a época da ditadura militar consumiu dos cofres públicos a bagatela de 800 mil dólares (equivalente e oitocentos milhões atualmente) e que hoje é ocupada por dezenas de famílias de desabrigados das cheias anteriores, que sobrevivem em estado de abandono e promiscuidade. Ninguém sabe afirmar se estas pessoas serão incluídos no programa habitacional do governo e vão ganhar casas novas dentre as mais de 3.000 que serão construídas. A conhecida “Santa Fé” recuperada seria ideal para funcionar como uma Escola Técnica Profissionalizante ou uma Faculdade graças a sua extraordinária estrutura. Fica localizada a apenas seis quilômetros do centro da cidade.

Uma das maiores escolas do seu gênero em Alagoas, o Colégio Santa Maria Madalena pertencente a CNEC (Campanha Nacional de Escolas de Comunidade)  também localizado em União chegou a abrigar 1.000 alunos em três turnos mas em passado recente encerrou seus trabalhos precisamente no ano passado, sob a alegação de “inadimplência do alunado” conforme a direção da escola. Com o fechamento da pioneira escola, também ficou para trás uma história de lutas dos próprios alunos que ajudaram pessoalmente desde a construção do alicerce até o complemento das primeiras quatro salas de aula, em um trabalho pioneiro do Monsenhor Clóvis Duarte sequenciado pelo educador José Correia Viana. Centenas de ex-alunos hoje dispersos lembram com saudades do velho casarão. Atualmente o conhecido “Sant Maria” serve como Campus da UNEAL que em breve deve ganhar sede própria e a comunidade ganhará para sua já extensa coleção mais um “elefante branco”.

Também quase nada se fala sobre o Hospital Geral de União dos Palmares, que em função de problemas mais políticos que financeiros, funciona apenas seu laboratório e atende consultas em seu moderno e amplo prédio no centro da cidade.

Ruas sem sinalização nos postes, transito caótico, feiras livres desordenadas acontecendo todos os dias da semana tirando do povo o direito de circular no centro comercial e histórico da sua própria cidade, comercio dominado por pequenos empresários de outras localidades (feirantes) ou grandes empresas que se aproveitam da falta de órgãos fiscalizadores como o PROCON e outros de defesa do consumidor para extorquir a comunidade, um mercado de carne arcaico, um museu particular caindo, trafico e consumo de drogas proporcionando elevado numero de crimes o  município continua perdendo espaço no cenário estadual.

Já chegamos a uma população de 75 mil habitantes e hoje segundo o IBGE não somamos os 63 mil. Éramos o segundo mais importante (em todos os aspectos desde tamanho da população até economicamente) município alagoano e Colégio Eleitoral somente sendo superado por Arapiraca, mas com o descaso a que o município foi sendo submetido nos últimos quarenta anos já caminhando para meio século, nos ultrapassaram Palmeira dos Índios, Rio Largo e São Miguel dos Campos.

Para uma noção mais ampla da realidade desta fase ruim, até mesmo a Igreja Matriz de Santa Maria Madalena construída em 1880 em estilo holandês e personalizada para servir de sede de Diocese foi destruído. Um grupo de padres estrangeiros junto a alguns “católicos” locais arquitetou um argumento baseado no pretexto mentiroso que o secular templo ia desabar e aconteceu a sua destruição, cedendo lugar a uma igreja que não comporta o numero de fieis do município em dia de festas ou celebração religiosa mais importante.

O mesmo destino seguiu a histórica Casa onde residiu e fez história Basiliano Obílio Sarmento que chegou a hospedar a Imperatriz da época e o Conde D’Eu logo após a abolição da escravatura. Atualmente o único local conservado com aparência de construção colonial só o Mercado Publico na Praça central da cidade, o que significa dizer que o município não preservou, portanto não tem história.

 


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